CC Campo das Artes: Saberes e Práticas – Profa. Alessandra Simões [2019.2]: Movimento Bagrista-Baiano Sinantrópico

Cabeça de Bagre foi resultado do Componente Curricular Campo das Artes: Saberes e Práticas, ministrado pela professora Alessandra Simões, no segundo quadrimestre de 2019. A proposta foi realizar uma intervenção artística em Itabuna lançando mão de estratégias da arte urbana contemporânea e sua relação com o ativismo voltado para a questão da apropriação dos espaços na cidade.

  • Pessoas atravessando a rua na faixa com sacos de papel na cabeça

Partindo de conceitos básicos a respeito da história da arte, especialmente, a partir do turning point das vanguardas históricas, utilizamos o conceito de manifesto artístico e sua importância para aquele período. Estudamos a fundo o Manifesto Antropófago para depois construirmos um manifesto próprio que trataria das questões relativas ao nosso trabalho. Depois dos estudos teóricos, realizamos derivas pela cidade, o que resultou na ideia de criar um personagem que tivesse a ver com Itabuna. Durante as caminhadas, pessoas que frequentam a região conhecida como beira-rio foram entrevistadas sobre a história do rio; alguns depoimentos foram utilizados no minidocumentário Cabeça de Bagre.

A ideia surgiu depois das caminhadas às margens do rio que corta a cidade, o Cachoeira, quando avistamos de uma passarela diversos bagres colocando a cabeça para fora da água com a boca aberta; os peixes pareciam que estavam agonizando sem oxigênio. O desânimo diante da quantidade de esgoto in natura despejada no rio diariamente foi superado quando tivemos a ideia de criar um personagem para questionar, por meio da arte, o descaso ao qual a cidade está submetida.

Foi assim que surgiu a proposta de criação do Cabeça de Bagre, personagem meio humano, meio bagre; metáfora para aqueles que resistem diante das adversidades contemporâneas, principalmente, do avanço sistemático da destruição do meio ambiente. Ironicamente o sentido do termo “cabeça de bagre” no google aparecia como “cérebro pequeno em cabeça grande”; o que levou à caracterização de um cabeça de bagre com a faixa presidencial.

Os desenhos criados pelo aluno Caio Henrique Aguiar, artista paraense com um trabalho nas visualidades bastante maduro, ganharam uma silhueta simpática e irônica. Vários exercícios artísticos foram realizados antes da intervenção na cidade. As imagens do cabeça de bagre foram sobrepostas a fotografias da cidade, em situações hipotéticas, como em janelas de casarões antigos e na beira do rio. Também foram colados lambes nas paredes do pavilhão de aulas do CJA e alguns dos estudantes participaram de uma manifestação política na cidade vestidos com as máscaras. Foi criada uma página no instagram para a prática de exercícios visuais com as imagens do personagem (@kbcdebagre).

No dia 23 de agosto, a região beira-rio de Itabuna ganhou a presença deste personagem pitoresco a partir de uma intervenção artística bastante dinâmica, que misturou uma caminhada performática dos estudantes que, trajados com as máscaras e tocando instrumentos musicais, realizaram um logo percurso às margens do rio cachoeira para realizar a colagem de Lambe-lambes (cartazes em dimensões variadas) e adesivos.

Posteriormente à intervenção principal, o grupo também montou uma exposição sobre o trabalho no prédio da reitoria. A proposta era refletir sobre os diversos sentidos em torno do personagem, especialmente, a capacidade de resiliência do ser humano em locais de degradação urbana avançada, a pobreza e a questão da identidade cultural brasileira e baiana. A gênese do cabeça de bagre foi sistematizada no manifesto artístico inspirado nos modelos literários das vanguardas do início do século 20. A iniciativa acabou ganhando o nome de Movimento Bagrista Baiano Sinantrópico (esta última palavra em referência à capacidade de adaptação dos animais ao meio urbano).

BIOGRAFIA 

Alessandra Simões é professora de artes no campus Jorge Amado. Fez a graduação em comunicação (Unesp); mestrado e doutorado em artes (USP). Sempre manteve o pé firme nas artes por meio da performance, das artes visuais, do teatro e da palhaçaria. Atualmente, procura trabalhar com as possibilidades da arte urbana e da construção de “objetos poéticos pedagógicos”, isto é, as materialidades que transitam entre a educação e as artes.

Caio Henrique Aguiar é estudante do BI de artes na UFSB. Artista nortista do interior do Pará. 

Gilvia Queiroz é bailarina, estudante e feminista.

Marconi dos Santos Sales tem 21 anos e é amante de toda expressão artística, em especial, artes plásticas e visuais. Tem a formação técnica em comunicação visual pelo CETEP, atualmente estudante da graduação INTERDISCIPLINAR EM ARTES – LICENCIATURA na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

Thaís Calderone Santos, estudante do BI de artes da UFSB.

FICHA TÉCNICA

Título: Movimento Bagrista Baiano Sinantrópico
Técnica utilizada: Intervenção urbana
Ano da obra: 2019
Coordenação: Alessandra Simões (docente)
Realização: Alunos e alunas vinculados ao Componente Curricular Campo das Artes: Saberes e Práticas